18 setembro 2006

Importando textos

Importando textos....

Na verdade, eu já havia começado esse blog em outro lugar e tento esse aqui porque me cansei de ser impossibilitada de entrar no meu próprio blog. Por sorte, foram apenas três textos, que eu importo na íntegra:

[ Quarta-feira, Fevereiro 15, 2006 ]

Não fui com a cara dela. Na verdade nunca fui e apenas mantenho as aparências por inércia. Mas cutuco, ah se cutuco. Olhando por outro lado, com quem eu fui com a cara? Ninguém, excetuando um ou outro cara bonitinho a quem me limitei a não desgostar, embora tenha sido absolutamente simpática e demasiadamente gentil. A verdade é que tenho andado só, e essa solidão é mais ou menos algo como a reação que tive ao subir na balança e descobrir que já estava com 78 kg, constatados pelo espelho: Que bom, estou gorda! Minhas calças não servem mais e eu não tenho a mínima disposição de comprar outras, pra isso existem saias! Mas não agüentei a segunda aula de dança, torturada pelo tamanho do espelho que me acusava (o que não me impediu de forma alguma de ganhar mais sete quilos). Assim é minha solidão, planejada, desejada, querida... e odiada profundamente. Me sinto corroída por cada dia desperdiçado em frente a TV, por cada sábado torturante com dinheiro e sem companhia, pelos momentos em que me sentia um bicho enjaulado em mim mesma, pelo telefone que nunca toca e a imprestável internet. Senti cada uma das feridas reabrirem, cada não, cada ex, cada traição, senti novamente o peso atroz de ser sozinha no mundo e senti tanto que quase deixei de sentir. Mesmo assim, não fui com a cara dela, como não tenho ido com a de ninguém. Mesmo assim me recusei à embriaguez completa, me recusei aos prazeres do corpo e apenas desejei estar de novo só. A festa estava apenas do lado de fora, do lado de dentro o impasse entre uma parte que manda seguir a rotina e as aparências e outra parte que não quer mais ninguém por perto. exceto Exceto se for pra ser de verdade, se puder haver confiança (não consigo mais confiar... é como se tivesse dado tanto que pouco sobrou, é como se eu precisasse ser conquistada uma vez, pra poder voltar a acreditar). Tenho vivido minha solidão de modo quase sagrado, tenho juntado forças, tenho tentado me conhecer. Escolhi estar assim, porque desse modo reconstruo, junto forças e reafirmo meu amor por mim, amor esse tão tortuoso quanto eu. Não dá pra falar disso com ela, bêbada e fogosa. Nem com a amiga, bêbada e no cio. Menos ainda com ele, por todos os motivos. Todos eles me incomodam, estar longe do meu refúgio me incomoda, e me torno um pouco amarga, ácida e maldosa. Aprendi há muito tempo que isso afasta os outros de mim. Curto de novo minha solidão, mas a trocaria de bom grado por um telefonema, um teatro, um chopinho, uma boa conversa, desde que aconteça com alguém que queira celebrar comigo a VIDA e a arte do ENCONTRO. Sem aparências e sem medo, como convém a uma boa celebração.
Claudia



[ Domingo, Fevereiro 12, 2006 ]

Um amigo me ligou do hospital, em poucas horas irá passar por uma cirurgia que promete mudar sua vida pra sempre: redução de estômago. Do auge de seus mais de duzentos quilos e de todos os prejuízos causados pelo excesso de peso ele se submeterá a uma mutilação que poderá lhe tirar não a vontade, mas a capacidade de digerir o mundo. De uma alimentação que antes chegava a quilos de comida por dia, ele terá que se contentar com um copo de café contendo sopa rala em horários determinados. A cirurgia lhe obrigará a ter uma disciplina alimentar que nunca conheceu, sob risco de morte. A disciplina se estenderá a todas as áreas de sua vida pelos próximos quarenta dias, durante a convalescença. Após esses quarenta dias, espera-se que ele tenha se acostumado a uma rotina completamente nova, e o risco, nesse caso, é o do fracasso. Talvez por medo dele, meu amigo tenha demorado tanto para se decidir a entrar no centro cirúrgico. Depois será o corpo, novo a cada dia. Mais belo, é verdade, porém novo, até que chegue em um ponto completamente desconhecido. Há anos conversamos sobre isso, e sempre concordamos no ponto que não deve ser fácil se acostumar a um corpo que não é seu. Um corpo que rapidamente muda de forma e se torna outro. Está ali, logo embaixo do seu nariz, mas não é seu. É totalmente diferente daquele corpo que se vê ao fechar dos olhos. O espelho se torna uma incógnita, e lá se vão horas e horas em frente ao espelho. Qualquer semelhança com a adolescência não será mera coincidência. Mas por fora... por fora tudo estará sob um mar de rosas, e a dor, o estranhamento, o remorso, a saudade do velho corpo e do velho modus vivendis deverão ser fortemente negados, como reza o manual de boa convivência social (seria psicologuês demais falar em sobrevivência psíquica?). O lado bom disso tudo? O motivo que leva tantas pessoas a se submeter a essa cirurgia? Bom, esses já são tão conhecidos que pouquíssimas pessoas hoje questionam a necessidade da cirurgia. É uma questão de saúde, dizem, um imperativo mordaz. Ou, como disse hoje meu amigo - quando penso em tudo o que eu tenho que passar eu me lembro daquilo que me disseram: você vai ficar tão bonito! Boa sorte, amigo. E, principalmente: força!
Claudia


[ Sexta-feira, Fevereiro 10, 2006 ]


Queria encontrar um bom jeito pra começar. Explicar o título, talvez...é uma bonita história. Falar de minhas andanças, meus amigos, minha solidão. Falar de planos, pirações, milhões de idéias loucas que me invadem a mente todos os dias. De 108 amigos no Orkut e da dificuldade em achar alguém legal pra sair à noite, pra viajar, bater um papo, talvez. Contar como sonhei a vida toda com uma coisa e agora que tenho...tantas dúvidas! Eternidade, amor, confiança, desconfiança... Enfim, qualquer desses temas seria um bom começo, porque falar do que penso é uma ótima forma de me apresentar. Mas entrei na net só pra olhar meus e-mails, estou com sono e já estou aqui há quase duas horas. Mundo Febril de volta e com novo nome. E, como sempre, em edição por tempo limitado.

Claudia