01 dezembro 2006

Pasmaceira

Depois da tempestade-relatório estou bem.
Quer dizer, do meu jeito torto de estar bem. Só falta mais um trabalho, talvez uma prova de rec e... mais um semestre pra curar a sequela de ter acreditado na seção de alunos. Minha formatura estava tão próxima...
Mais um semestre aqui. Isso poderia ser bom, me abre muitas possibilidades, me livra de ter que "elaborar o luto" de sair da faculdade, mas ainda assim me sinto decepcionada.
Tenho medo de que, com mais alguns meses eu desista de uma vez.
Sempre sonhei em fazer o que faço, desde criança. Nada de orientação profissional, de medo de escolher, nada. Eu simplesmente SABIA que era isso o que eu iria fazer.
E fiz. Cursinho, vestibular, passei!!!!
Um pouco difícil de me adaptar no começo com a faculdade, as pessoas, as diferenças entre eu que não tinha nada e quem sempre teve tudo, o medo do preconceito, o medo de ter que enfrentar a vida, de mês que vem não ter o dinheiro do ônibus e por isso ter que desistir.
Minhas roupas, meu cabelo, meus sapatos e minhas gírias denunciando que vinha de um mundo que a maioria só conhecia das novelas.
Em pouco tempo isso passou. Percebi que o preconceito era mais meu do que dos outros. Que meu pai não me abandonaria (de novo). Mudei o penteado, as roupas, o modo de falar. Consegui bolsas, viajei, estudei, vagabundeei, aprendi a jogar sinuca, engordei, cresci (cresci???).
Acho que fui tratada como igual, que os "mundos" sociais não são tão diferentes, afinal. E assim me acostumei.
O meu antigo mundo? Alguns ainda me aceitam, outros não e nem eu os aceito mais. Aburguesei nos últimos anos.
Muitos e muitos textos depois...
Chegou o terceiro ano. Estágio. Comecei a entrever o que seria o meu futuro trabalho. Comecei a me apaixonar.
Quarto ano. Estágio. Agora sim me vi como profissional. Me apaixonei completamente. Cheguei a acrediar que tinha feito a escolha certa. Vivia feliz, só falavapensava nisso o tempo todo. Acreditava no que fazia.
No começo do quinto ano também estava assim, queria fazer mil coisas, fazia mil planos. Nem tudo o que eu queria fazer eu consegui, mas tive boas surpresas, muitos elogios, fé.
Quando foi que isso acabou? Não sei, mas em algum momento entre o final do semestre passado e o começo desse tudo acabou.
Desisti de fazer estágios, quis "dar um tempo" para "fazer uma análise crítica do meu trabalho". três matérias e o começo da licenciatura (dessa eu desisti também). Tudo foi se esvaindo.
Quase cheguei a me animar de novo tempos atrás...
Há algumas semanas descobri que está tudo muito longe, que não me vejo trabalhando nessa profissão, e o que é pior: não sei mais se acredito nela!
Pensei que isso poderia se dever a problemas com supervisores, com a estrutura da Universidade e coisa e tal. Que me formando agora eu poderia atuar com mais flexibilidade e quem sabe me reencontrar.
Mas não vou me formar. Faltou uma matéria, uma única matéria e nenhuma disposição para aproveitar o tempo que sobra estagiando, trabalhando ou aprimorando minha formação. Nenhuma.
E o que fazer se nesse "tempo" eu descobrir que fiz a escolha errada? Vinte e quatro anos, sem mais direito à pensão. Cinco anos e meio de fauldade (mais dois de cursinho pré vestibular). Nenhuma idéia de que outra coisa tentar.
O que você faz quando aposta todas as suas fichas em um jogo certo e descobre que ele não era tão certo assim?