19 outubro 2007

Fragmentos

O problema é que partimos do princípio de que a normalidade existe e de que tudo, comportamentos, características, gostos... tudo segue uma curvatura normal.
Um amigo que entende matemática me fez ver que aí está um grande problema. Em alguns casos, a normalidade pode não existir (*). Podem haver dois, três picos. É como a beleza das mulheres de bailes funks. Não seguem a curva normal. Ou as mulheres são muito feias ou são muito bonitas. O meio-termo, que devia ser maioria (isso seria a normalidade) quase não existe. A ponta da curva (muita feiúra) adiquire proporções enormes, a outra ponta também tem um pico.
Isso é estranho. As vezes me sinto estranha por não me encaixar nesses picos. As vezes sinto que não tenho par nisso tudo, mas não por estar em uma das pontas da curva, por ser demais ou de menos e por isso, rara. As vezes sinto que simplesmente não me encaixo.


Gauss e sua normalidade. Cálculo, dispersão... nem sempre a normalidade existe. As vezes é apenas um traço imaginário que permite que organizemos as coisas pra nos sentirmos melhor.
Nós acreditamos mesmo na normalidade. Se ela existisse, eu, você, todos nós seríamos normais. Mesmo os excessos fariam parte da variação esperada, seriam normais. Nós pertenceríamos.
Mas nem sempre é uma questão de excessos, às vezes é uma questão de não fazer parte, de perceber que não há o normal e que, de repente, podemos nos descobrir extremamente sós.

18 outubro 2007

Largando a Terapia II

Demorou ainda alguns dias,mas consegui dizer adeus. Não antes que a raiva passasse e eu conseguisse ver mais claramente meus motivos. Precisei de raiva e de rancor pra ter energia suficiente para tomar minha decisão.
Foi um ano e meio de convivência íntima, de uma relação permeada de muita afetividade (afeto: capacidade de se deixar afetar pela experiência, perdendo até certo ponto a objetividade), de sentimentos estranhos que emergiam com a força de um vômito ou de uma onda de ressaca.
É um processo intenso (descobri que vivo tudo na minha vida de modo intenso). Ainda está acontecendo. Ele definiu esse processo como um aprendizado de como cuidar de mim. Começou antes, com a dança; progrediu procurando ajuda quando já tinha ultrapassado todos os limites do suportável. Muita coisa mudou nesse tempo. O processo ainda está pra terminar, mas agora preciso seguir sozinha.
O ciclo se fechou e eu preciso sentir qual é a força de minhas pernas, preciso saber se as mudanças realmente existiram ou se foi apenas o reflexo de uma dependência, de ter um canto pra correr quando as coisas apertassem.
Agora o que está apertado é meu peito, vou sentir saudades, mas tenho certeza de que fui em boa hora.

03 outubro 2007

Largando a terapia

"Você é livre", foi o que ele disse. E emendou com um desastroso " não dou alta pra nenhum dos meus pacientes, terapia é questão de escolha".
Escolhi, mas ainda preciso criar forças para manter minha escolha.
Termino a terapia como quem termina um namoro. Descobri agora que foi apenas isso, um suscedâneo para uma relação de verdade, uma rota de fuga pra que eu não tivesse que encarar minha própria impotência diante dos homens.
Amor? Nunca foi isso,mas apenas a habitual dependência, minha muleta, meu espelho para não encarar a Medusa que mora dentro de mim.
Agora meus sonhos ficaram tão claros... mas ele não percebeu. Aí é que está o problema, ele era pago pra entender.
Não podemos conversar sobre isso. Há tanta mágoa, tantas incoerências, tanta decepção, que minhas críticas seriam confundidas com agressão. Pode parecer agressivo,mas não é! É apenas minha vida, meus valores, meus sentimentos. É descobrir que nos momentos em que mais precisei de ajuda profissional eu tive um amigo. Um mau amigo.
Amigos eu tenho aos montes, e jamais pagaria pela amizade de qulquer um deles.


É preciso coragem. E essa não é uma das minhas qualidades. Mês passado eu tomei a mesma decisão... não cumpri.
Mas agora não dá mais. Coragem!


Será que existe algum bom psicólogo no mundo? Ou o problema seria da própria psicologia? Não posso avaliar. Em um ano e meio de terapia revi muito de minhas questões profissionais. Do pouco que conheço da teoria, posso afirmar que a prática não foi condizente. Mas o resultado seria diferente se houvesse maior rigor na análise?