15 fevereiro 2007

Sonhos

Sonhei que pegar um ônibus para ir até o Campo Limpo. Me distraía e perdia o ponto. O ônibus entrou por um corredor que era o início de uma grande favela. Descia, morrendo de medo e tentava voltar até a praça que eu deveria ter descido. Errava o caminho e, cada vez que pensava que tinha encontrado o caminho eu entrava na casa de alguém, ou em outro corredor apertado.
Tremia de medo, não conseguia pedir ajuda e nem me lembrar do caminho certo.


Eh...os sonhos faam mesmo do momento em que passamos. Mas vou encontrar a saída, custe o que custar.

02 fevereiro 2007

Childish fears

Naquele ano de 2004 eu estava nas profundezas do inferno. O amava, sofria sua falta, sua perda, mas ironicamente seu ombro era o único que eu tinha pra chorar.
Simplesmente não conseguíamos nos desligar, e de tanto medo de magoar-mo-nos é que nos submetíamos àquela humilhação.
Pouco tempo antes eu a havia conhecido. Um único encontro, mas que me fez tão feliz que eu a queria de novo comigo no meu aniversário (sempre soube do mal que ela causava em todos os que se atreviam a ama-la, mas a amei mesmo assim). Por isso ele não poderia estar lá.
Era chegado o dia. Eu já havia me arrependido, já tinha tentado convida-lo, mas ele não aceitou. Achou demais que eu o tivesse desconvidado e marcara outro compromisso.
Mesmo assim passou o dia comigo. Andamos pela Paulista, eu não me continha de tanta triteza, andava atrás dele e do amigo para que não vissem uma lágrima ou outra que eu não tinha forças para segurar. Era meu aniversário, mas eu comprei um presente pra ele. Um livro de um autor que ele gostava.
Não ganhei nenhum presente.
Não costumo comprar CDs, no máximo uma coletânea ou outra que custe de dez a doze reais mas me dei um presente.
Comprei um CD do Evanescence, apenas porque em tudo My Immortal me entendia. letra e Melodia me entendiam e aliviavam um pouco o medo de minha solidão.
Eu também enxuguei muitas lágrimas...
Eu também lutei contra os seus medos...
De alguma forma, ele ainda tem tudo de mim.
Ainda chorei em seu colo até que o primeiro convidado da minha festa chegasse e ele finalmente partisse.
Ela? Não naquela noite, mas confesso que ainda estou tendo dificuldades de tira-la completamente da minha vida.


Mais de dois anos depois, essa música ainda me fala muito de mim (e por isso que a escuto muito pouco...pausa para pegar o CD...tomara que não tenha se perdido para sempre...).
Mas agora não é dele que a música fala, é de mim.
Fala de meus medos infantis, de marcas que o tempo nunca apagará. Fala de expectativas, esperanças, amores. De tudo aquilo que se foi, mas que deixou saudades e por isso mesmo ainda estão vivas dentro de mim. ("Tudo o que morre fica vivo na lembrança/ como é difícil viver carregando um cemitério na cabeça" me dizia outra música) My immortal fala de doação, de esquecimento de mim, de quanto faço isso o tempo todo sem perceber que isso não me torna mais boa, mais amável. Isso me torna menos feliz, com a pouca felicidade merecida por alguém que se esqueceu de si mesmo.
Tenho tentado me lembrar de mim. Me encontrar, me descobrir. Nessa nova busca pela autodescoberta enfrento o pior dos meus medos: o de descobrir em mim alguém despido de beleza e de bondade, o medo de me olhar no espelho e não ser capaz de amar aquilo que vejo, por não encontrar o que amar.
Um medo antigo, vago, confuso e que agora posso admitir. Posso dizer mesmo que nunca o conheci senão agora, quando comecei a enfrenta-lo. Mas comecei e não pretendo desistir.
São tantos medos infantis que me reprimem...
Há pouco enfrentei minha mãe, enfrentei as reminiscências de um passado que também me dói, que construiu minha história e que neguei por tantos anos ter me marcado tanto. Me alivia profundamente o fato de que não brigamos.
Ninguém pode me entender o quanto isso me alivia.
Ainda assim dói, em nós duas, mas quem sabe isso seja um prenúncio de que um dia poderemos nos entender....
Entre amanhã e domingo enfrentarei meu pai.
Um dos dois terá que ceder. Um dos dois terá que pensar em mim. Um dos dois.
O passado terá que ser remexido de novo e isso sempre me dói. É como se eu voltasse a ser a criança amedrontada pela violência do pai, pelo choro e inércia da mãe, pelas ameaças constantes e pelos fantasmas da miséria, do sangue, da solidão e da morte que sempre rondavam sua cabeça e perturbavam seu sono.
Não é apenas uma festa, não é apenas a questão de convidar ou não a nova mulher do meu pai para a minha festa.
São os meus fantasmas infantis que voltaram do inferno para me perturbar.
Mas comecei a enfrenta-los. Comecei e não vou desistir, agora tenho um anjo ao meu lado para me proteger e esse anjo me garante que sairei mais forte, que limpando minhas feridas antigas elas pararão de me incomodar.

É tempo de despertar. A música que tanto falei já não me dói como antes, pelo contrário, me aponta um caminho.

"Estou tão cansada de estar aqui
Reprimida pelos meus medos infantis
E se você tiver que ir
Eu desejo apenas que você vá
Porque sua presença ainda permanece aqui
E isso não vai me deixar em paz

Essas feridas parecem não querer cicatrizar
Essa dor é muito real
Isso é simplesmente muito mais do que o tempo poderia apagar

Quando você chorou eu enxuguei todas as suas lágrimas
Quando você gritou eu lutei contra todos os seus medos
Eu segurei a sua mão por todos esses anos
Mas você ainda tem tudo de mim

Você costumava me cativar
Pela sua luz ressonante
Agora eu estou limitada pela vida que você deixou para trás
Seu rosto assombra todos os meus sonhos,
que já foram agradáveis
Sua voz expulsou toda a sanidade em mim

Eu tentei com todas as forças dizer a mim mesma que você se foi
Mas embora você ainda esteja comigo
Eu tenho estado sozinha todo esse tempo"

(tradução de My Immortal - Evanescence)