21 novembro 2006

Pânico

Como descrever mais um ataque de pânico?
Como explicar essa sensação de que estou prestes a explodir, de querer morrer, do peito embargado, a garganta com um nó e o desespero????
O que explica o fato de que estou há cinco horas diante de um computador tentando fazer um trabalho que adio há mais de três meses e não consigo? Pode parecer ridículo, como toda a minha vida, mas é assim que me sinto.
Deixei de sair de casa, quase não venho há faculdade, desliguei o meu celular há mais de um mês e só o ligo depois das 23hs para saber se algum amigo me ligou, para desligar logo em seguida com medo da minha supervisora conseguir me achar. Não dou satisfações, não ligo, perdi uma boa oportunidade de pós, a confiança de alguém que eu admirava (e que me amirava) e tudo isso porque não consigo fazer o meu trabalho.
Tremo por dentro só de pensar, tento fazer os relatórios, apaguei tudo da minha cabeça, me corrôo há meses, mas não consigo!
Simplesmente não consigo, por mais ridículo que pareça. Nem mentir eu consegui, nem a fraude, apenas me entreguei ao fracasso.
Pânico!
Pânico!
É assim que me sinto toda vez que sento diante desse computador pra fazer esse relatório. Não consigo nem sequer pensar na besteira que fiz. Não consigo acreditar em tudo o que deixei de viver, na desistência de estudar, de fazer estágios, na confiança de pessoas maravilhosas, em todo o tempo em que me permiti essa agonia profunda e silenciosa. Não consigo conversar sobre isso, não consigo pensar, tentar achar uma razão plausível...
Apenas não consigo.
Apenas falhei.
De novo.
E isso faz de mim a mais ridícula das criaturas, a mais imperdoável. E isso me faz sofrer.



P.S. Mais uma hora de computador, umas 2000 calorias, depois mais uma hora de computador, dormir pra fazer logo cedo, uma hora organizando a papelada, um cochilo pra ativar o cérebro e, finalmente, duas horas de trabalho.
Finalmente, está pronto. Infelizmente, não tive coragem de entregar pessoalmente. Não consegui enfrentar a bronca. Daqui a pouco, deixar com a secretária, esperar a supervisora receber o trabalho e se sentir aliviada. Aí, é só esperar a bronca do ano e, quem sabe, poder voltar a atender telefone sem conferir a bina e transitar pelos corredores... por que eu não consegui antes? Por que eu tinha que ser tão perfeccionista? E ainda descobri uma coisa absurdamente óbvia: relatórios podem ficar ótimos mesmo que tenham menos de duas páginas...

18 novembro 2006

Uma nova tempestade

Uma nova tempestade parece se aproximar... uma chuva quente, intensa, dessas que acalmam o calor e acendem nossos corpos.
Isso parece me lembrar há quanto tempo não tomo chuva, há quanto tempo não me permito, não me entrego ao prazer da entrega.
É como se tivesse me fechado, me trancado numa torre alta de tanto medo de perder, de ser de novo traída, abandonada. Junto com minha alma anestesiei meu corpo, incapaz de sentir, de abraçar, o olhar sempre distante, o gozo que agora me parece ridículo, tão longe ficou no tempo.
Muito pouco sobrou do que me era mais caro, e me tornei amarga, preconceituosa, arrogante. Ás vezes me assusto ao perceber minha voz tão pronta pra reclamar e tão cega pra me alegrar com a beleza da vida.
Há tanta beleza nesse mundo.
A redoma blindada que coloquei em volta do que há de melhor em mim sufoca mais do que protege.

Reencontrei um livro de poesias em minha gaveta. Aquelas palavras que descreviam tão claramente o meu amor, o meu gozo e o meu corpo convulso vieram como um martelo de encontro à redoma. Algo se rachou dentro de mim e chorei com um desespero que há muito não sentia. Um grito mudo me tomou e então eu vi (não sem dor) que havia algo de podre nessa redoma. Dormi ainda com o rosto molhado.
Quando acordei me senti como se estivesse inteira quebrada, e de certa forma estava.
No reencontro, não estava lá. Minha boca falava e meu ouvido ouvia minha própria voz como se fossem coisas distintas.
Eu não estava lá, raramente estou.
Eu não estava inteira, raramente estou.
Mas havia uma rachadura, e ela foi tocada. Não falávamos de amor, mas era no amor que minha alma pensava. Minhas lágrimas foram de emoção sincera, mas não se referiam ao que eu falava. Se referiam ao amor, à saudade, ao medo de amar.
E então fiz um comentário simples, algo sobre algumas mulheres que são especiais e os olhos dele se acenderam. Seu rosto abaixou levemente e quase pude sentir o tremor do seu corpo. Isso me fez lembrar o quanto as pessoas apaixonadas podem ser profundamente encantadoras.
Que fique claro, a paixão não é por mim e o reencontro não se referia a amor
.
Mas me lembrou de como o ENCONTRO entre duas pessoas pode ser algo bom, me lembrou que o mundo é muito maior do que o mundinho em que vivo e me lembrou que não foi por amor que sofri.
O amor só me fez feliz. O que me fez sofrer foi ter colocado toda a minha felicidade nas mãos de quem não conseguia sustentar nem a própria. O que me fez sofrer foi o ciúme, o medo, o jogo cruel em que nos envolvemos. Foram as agressões, e não o carinho. Foram as noites em que violentei o meu corpo e não as noites em que nos entregamos a uma dança primitiva, a um ritual de prazeres.

Esse breve acender de olhos me iluminou por dentro e provocou outra rachadura. Por essa não chorei, pelo contrário, estive feliz como há tempos não estive. Senti uma energia gigantesca me inundar e me dizer que a vida segue, que o mundo é grande, e que eu ainda sou capaz de sentir. Me senti viva de novo.

Sei que em breve voltarei ao meu estado antigo. Minha voz ainda está pronta a reclamar e meu peito se inclina à tristeza da mesma forma que me inclino ao precipício. Mas agora existe uma rachadura, uma pequena e suave esperança.